Carta das Mães de Maio do Brasil às Madres e Abuelas da Plaza de Mayo

Carta das Mães de Maio do Brasil às Madres e Abuelas da Plaza de Mayo


São Paulo, 15 de Março de 2012

Queridas Madres e Abuelas de La Plaza de Mayo,

É com extrema preocupação e, ao mesmo tempo, em irrestrita solidariedade que, do Brasil, lhes escrevemos esta mensagem. Acabamos de receber a notícia de que uma das fundadoras do movimento, a companheira Nora Centeno, foi violentamente agredida e torturada em sua própria casa, na presença de familiares, na manhã da quinta-feira, 15 de março, por razões ainda desconhecidas.

Considerando intoleráveis esses bárbaros e sinistros acontecimentos, registramos nossa indignação e nos colocamos lado a lado da companheira Nora, sua família, sua luta histórica, e de todo o movimento das Madres e Abuelas. Mais que um patrimônio do povo argentino, consideramos Nora e esses movimentos, um patrimônio da nossa América Latina e de toda a humanidade, na luta pela verdade e justiça sem fronteiras. É, portanto, a partir deste nosso entendimento, que nos juntamos a vocês para exigir das autoridades competentes, o completo esclarecimento sobre mais esta violência, suas motivações e o indiciamento e punição em termos da lei dos responsáveis diretos e indiretos (se os houver) por tamanha barbárie.

Inspiradas também por vocês, nós constituímos em nosso país o movimento das Mães de Maio da Democracia Brasileira. Talvez vocês ainda não nos conheçam: somos um movimento relativamente recente, formado por Mães, Familiares e Amig@s de vítimas do Estado Brasileiro, criado a partir dos Crimes de Maio de 2006.

Nosso país, como a Argentina, também viveu uma longa ditadura civil-militar, de 1964 até 1988 – quando foi proclamada uma nova Constituição por aqui. No entanto, o novo Estado Democrático constituído, por não haver esclarecido os crimes cometidos no regime anterior, e não haver, portanto, julgado e punido seus responsáveis, mantém agentes estatais (sobretudo no poder Executivo e Judiciário, e suas respectivas polícias e Forças Armadas) que continuam a promover o terror contra os nossos trabalhadores e os mais pobres, principalmente nos bairros populares e das periferias das grandes cidades, em especial contra a nossa juventude pobre e negra. Para vocês terem uma ideia da dimensão dessa violência sistemática vivida por nós, a média anual brasileira de homicídios gira em torno de 47 a 50 mil assassinatos por ano, ao longo de toda a última década, deixando o Brasil no topo do ranking dos países com o maior número de homicídios em todo o planeta, segundo a ONU. Ou seja, nas últimas 3 décadas de “transição democrática”, já contabilizamos cerca de 1 Milhão de assassinatos, conforme assume o próprio Ministério da Justiça em nosso país ao divulgar o seu “Mapa da Violência 2012”. A grande maioria desses assassinatos é realizada por agentes do próprio Estado, ou grupos paramilitares e de extermínio ligados a ele e/ou aos grandes proprietários, o que configura um estado de sítio continuado e permanente, pelo menos contra os trabalhadores de menor renda e o povo pobre das cidades e do campo, em plena “democracia plena”.

Nosso movimento é fruto e resposta a essa barbárie, e a ele demos o nome de “Mães de Maio”: durante o mês de maio de 2006, no estado de São Paulo (o mais rico do nosso país) ocorreu o maior dos massacres destes mais de 20 anos de “democracia plena” – uma democracia plena de chacinas. Numa série de ataques contra a população das periferias das grandes cidades de São Paulo, agentes policiais e paramilitares ligados a grupos de extermínio mataram mais de 560 pessoas durante apenas 8 dias (de 12 a 20 de Maio de 2006). Um verdadeiro massacre que tirou a vida de muitos dos nossos filhos, e que passamos a chamar de “Crimes de Maio de 2006”.

A triste coincidência entre o mês de Maio que vitimou nossos filhos, e a “Plaza de Mayo” – que dá nome ao movimento de vocês na Argentina, bem como toda a referência histórica que o movimento de vocês significa para todas nós na luta pelo direito à Memória, à Verdade e à Justiça, e na luta por uma Verdadeira Democracia, fez com que escolhêssemos chamar ao nosso movimento de Mães de Maio da Democracia Brasileira. Mas não se trata apenas de um nome, ou de um recurso de propaganda e marketing. Trata-se de um compromisso. O compromisso de buscar e praticar o exercício cotidiano da solidariedade com as lutas históricas da classe trabalhadora, dentre as quais a resistência contra todas as ditaduras civis-militares no Cone Sul – o que consideramos absolutamente fundamental. Nós das Mães de Maio sempre fomos, e continuaremos a ser, solidárias à luta de tod@s @s perseguid@s, pres@s polític@s e assassinad@s pelos Estados latino-americanos, desde os povos originários massacrados, @s african@s sequestrad@s para o nosso continente na condição de trabalhador@s escravizad@s, os camponeses e camponesas expulsas de suas terras e assassinad@s, @s operári@s explorad@s, as vítimas e parentes de pres@s e perseguid@s políticos das ditaduras civis-militares, e a@s milhares de pres@s polític@s atuais de nossos países, em sua maioria de origem afro-indígena e pobre, das periferias e dos movimentos sociais.

Estamos convencidas de que é o sepultamento da Memória, a não-revelação da Verdade e a falta de verdadeiros processos de Justiça contra as violências históricas dos Estados contra seus cidadãos e cidadãs – estas negações de direitos – que estão na origem da continuidade da violência e do terror do Estado, mesmo em tempos de “democracias plenas”. Enquanto não se tiver a coragem de enfrentar todo o poder econômico, político e militar que faz questão de perpetuar, em cada um de nossos países, a violência das elites e seus respectivos aparatos estatais contra a maioria de nossas populações, para nós de nada significará a utilização dessa palavra “democracia”, a não ser como forma de engodo.

A barbárie desencadeada nesta quinta-feira (15/03) contra a companheira Nora Centeno, longe de nos intimidar, nos torna ainda mais alertas e solidári@s, e aumenta a nossa disposição de nos juntarmos a vocês em mais esta jornada.

As notícias que temos são de que – em termos da Justiça de Transição para a Democracia – o avanço das conquistas na Argentina são bem maiores que o que temos conseguido em nosso país. Sem dúvida, são notícias que procedem – enfim, vocês já conseguiram levar às barras dos tribunais, julgar e condenar generais e até chefes de Governo e Estado do período da ditadura. Isto nos dava, portanto, algum alento frente ao que aí se passava. No entanto, a recente violência contra Nora Centeno, nos deixa preocupad@s e em estado de alerta.

A violência cometida contra Nora Centeno é um alarme para que sigamos mais próxim@s e mais solidári@s uns aos outros – trabalhadores e povos latino-americanos – atentos a qualquer tipo de continuidade ou de reação dos fascistas de plantão, que seguem vivos e atuantes em cada um de nossos “estados democratizados”, muitas vezes travestidos na pele de “gestores progressistas”. Não foi em nome de “democracias” que considerassem “normais” este tipo de violência cometida hoje contra Nora aí na Argentina, e praticada cotidianamente contra jovens pobres e negros aqui no Brasil, que lutaram todos os nossos netos ou filhos assassinados, tampouco é por esta “democracia” que nós Mães e Avós seguimos lutando!

Força a todas vocês, companheiras! Sigamos atent@s e solidári@s!

Abraço carinhoso e especial à companheira Nora Centeno e toda sua família!

Pelo Direito à Memória, à Verdade e à Justiça! Ontem e Hoje! Aqui e aí!

A Luta por Liberdade não tem fronteiras no Tempo e no Espaço!

Mães de Maio da Democracia Brasileira

* IMPORTANTE – Estamos em busca da tradução imediata desta carta, do português para o castellano. Assim que tivermos concluída esta tradução, a enviaremos a todas as Abuelas, Madres e Hij@s de Argentina e da América Latina. Estamos junt@s na luta por Verdade e por Justiça! Ontem, Hoje e Sempre!

Esta entrada fue publicada en cartas marcadas, Denuncia, Desaparecidos, Género, Internacionales, Mujeres, Noticias, REPRESION POLÍTICA Y DEFENSA DE LOS DERECHOS HUMANOS, Solidaridad. Guarda el enlace permanente.

2 respuestas a Carta das Mães de Maio do Brasil às Madres e Abuelas da Plaza de Mayo

  1. Myla dijo:

    Han encontrado ya quien traduzca? Puedo ofrecerme a hacerlo…Saludos cordiales

  2. Myla dijo:

    Sao Paulo, 15 de marzo de 2010

    Querida madres y abuelas de la Plaza de Mayo:

    Con extrema preocupación y al mismo tiempo con resoluta solidaridad desde Brasil, les escribimos este mensaje. Acabamos de recibir la noticia de que una de las fundadoras del movimiento, la compañera Nora Centeno, fue violentamente agredida y torturada en su propia casa, en presencia de sus familiares, la mañana del viernes 15 de marzo del año en curso, por razones aún desconocidas.
    Consideramos intolerables, bárbaros y siniestros estos acontecimientos, les hacemos saber nuestra indignación, así como nuestra solidaridad con la compañera Nora, su familia, su lucha histórica y de todo el movimiento de las Madres y Abuelas de la Plaza de Mayo. Más que un patrimonio del pueblo argentino, consideramos a Nora y el movimiento, un patrimonio de toda América Latina y de la humanidad, su lucha por la verdad y la justicia sin fronteras. Es por tanto, que juntamos nuestras voces para exigir a las autoridades competentes el completo esclarecimiento de este acto de violencia, sus motivaciones, el enjuiciamiento y castigo de los responsables directos o indirectos (si es que existen) de la barbaridad cometida.
    Inspiradas por ustedes, hemos constituido en nuestro país el Movimiento de Madres de Mayo de la Democracia Brasileña. Tal vez todavía no nos conocen, somos un movimiento relativamente nuevo, formado por madres, familiares y amig@s de víctimas del Estado Brasileño, creado a partir de los crímenes de Mayo de 2006.

    En nuestro país, al igual que Argentina, también se vivió una larga dictadura civil-militar, durante los años 1964 a 1988 hasta que fue proclamada una nueva constitución. Sin embargo el nuevo Estado creado, no esclareció los crímenes cometidos en el régimen anterior, no juzgó ni castigó a los actores responsables directos. Asimismo el Estado sigue manteniendo en el Poder Ejecutivo y Judicial, en el cuerpo policiaco y las Fuerzas Armadas, a funcionarios públicos que continúan promoviendo el terror contra los trabajadores y la gente más pobres, principalmente en los barrios populares y la periferia de las grandes ciudades, en especial contra la juventud pobre y negra.

    Para que tengan una idea de la dimensión de la violencia sistemática experimentada en nuestro país, el número de homicidios anuales oscilan entre 47 a 50 mil asesinatos por año durante la última década, colocando a Brasil como el primer país en con mayor número de asesinatos, según información de la ONU. Es decir, las últimas tres décadas de “transición democrática”, se registraron más de un millón de asesinatos, conforme a las cifras del propio Ministerio de Justicia del país, divulgado en el “Mapa de la violencia 2012”. La mayoría de los asesinatos fue realizada por Agentes del Estado o grupos paramilitares y de exterminio ligado a los grandes propietarios, lo que provoca un estado de sitio permanente en contra de los trabajadores con menores ingresos y la población más pobres de las ciudades y el campo en periodo de la llamada “democracia plena”.

    Nuestro movimiento es el resultado y respuesta a semejante barbarie, nombrándolo “Madres de Mayo”. En mayo de 2006, en el estado de Sao Paulo (el estado más rico de nuestro país) aconteció una de las mayores masacres de los últimos veinte años, hecho ocurrido en periodo “democracia plena” – una democracia llena de sangre. En una serie de ataques contra la población de la periferia de las grandes ciudades de Sao Paulo, agentes de policía y paramilitares ligados a grupos de exterminio mataron a más de 560 personas en un periodo de 8 días (12 a 20 de mayo de 2006). Una verdadera masacre que costó la vida de muchos niños y que nombramos “Crímenes de mayo de 2006”.

    La desafortunada coincidencia entre el mes de mayo que mató a nuestros hijos y la “Plaza de Mayo” – que da nombre a su movimiento en Argentina – así como cualquier referencia histórica de lo que significa para todos nosotros la lucha por el Derecho a la Memoria, la Verdad y la Justicia, es una lucha por una verdadera Democracia, hizo que nombráramos a nuestro movimiento “Madres de Mayo de la Democracia Brasileña”. Sin embargo no se trata solamente de un nombre, de propaganda o marketing, se trata de un compromiso. El compromiso de buscar y ejercer cotidianamente la solidaridad con las luchas históricas de la clase trabajadora, entre la que se encuentra la lucha contra las dictaduras y militares del Cono Sur – lo cual consideramos absolutamente fundamental.

    Las Madres de Mayo somos y continuaremos en solidaridad con la lucha de tod@s los perseguid@s, pres@s políticos y asesinados en los Estados Latinoamericanos, desde los pueblos originarios masacrados, los africanos secuestrados y traídos a nuestro continente para trabajar como esclavos, los campesinos y campesinas expulsados de sus tierras y asesinados, l@s trabajador@s explotad@s, las víctimas y familiares de pres@s y perseguid@s políticos de las dictaduras civiles-militares y miles de pres@s políticos de nuestro país, en su mayoría de origen afro-indígena y pobre, de la periferia y movimientos sociales.
    Estamos convencidas que sepultando la memoria, no revelar la verdad y la falta de procesos reales de Justicia contra la violencia histórica cometida en contra de los ciudadanos – ésta negación de derechos – son el origen de la violencia y terrorismo de Estado existente, en tiempos de plena “democracia plena”. En nuestros países no se tiene el coraje de enfrentar el poder económico, político o militar; las élites y los Estados ejercen absoluta violencia contra la mayoría del pueblo; para nosotros no significa nada la palabra “democracia”.

    La barbarie desatada este viernes 15 de marzo en contra de la compañera Nora Centeno, lejos de intimidarnos, nos mantiene más alerta y solidari@s y aumenta nuestra disposición de unirnos a ustedes en la lucha.

    La noticia que tenemos es que – en términos de justicia en transición a la democracia – el avance de los logros en la Argentina son mucho mayores de los que hemos logrado en nuestro país. Sin lugar a dudas, según las noticias- han logrado llevar a la Corte de Justicia, a los generales e incluso jefes de Estado y de Gobierno del periodo de dictadura. Esto nos da aliento para seguir continuando, sin embargo, la reciente violencia en contra de Nora Centeno, nos deja sumamente preocupados y en un estado de alerta.
    La violencia cometida contra Nora Centeno es una alarma para que continuemos trabajando solidariamente con los trabajadores y los pueblos de América Latina en la búsqueda de cualquier tipo de continuidad o de reacción de los estados fascistas, que siguen vivos en cada uno de nuestros “estados democráticos”, quienes se visten de “progresistas”.

    En un régimen “democrático” no es “normal” la violencia cometida en contra de Nora, en Argentina, la cual se practica cotidianamente contra la población de jóvenes pobres y negros de Brasil, misma que sufrieron nuestros nietos e hijos asesinados, esta no es la “democracia” por la que luchamos las Madres y Abuelas.

    En la lucha con ustedes compañeras ¡ Seguimos en solidaridad¡

    Abrazo cariñoso y especial a la compañera Nora Centeno y a toda su familia

    Por el Derecho a la Memoria, la Verdad y la Justicia! Ayer y hoy! Aquí y allá!

    La lucha por la libertad no tiene límites en el tiempo y el espacio!

    Madres de Mayo de la Democracia Brasileña

Deja un comentario